O
presidente Jair Bolsonaro compartilhou por WhatsApp vídeo convocando a
população para atos anti-Congresso no dia 15 de março. Amigo do
presidente, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) confirmou a
informação ao GLOBO. O próprio Fraga disse ter recebido o vídeo de
Bolsonaro. Os atos foram marcados por apoiadores do presidente em defesa
do governo, dos militares e contra o Congresso. A mobilização ganhou
força na semana passada, após o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), Augusto Heleno, ter atacado parlamentares,
acusando-os de fazer “chantagem”.
Parlamentares e lideranças
políticas de diversos partidos reagiram ontem com críticas a Bolsonaro. O
ex-presidente Fernando Henrique classificou o episódio como “uma crise
institucional de consequências gravíssimas”. “Calar seria concordar.
Melhor gritar enquanto se tem voz”, publicou em seu perfil no Twitter.
O
ex-presidenciável e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ressaltou que é
“criminoso” incitar a população com “mentiras contras as instituições
democráticas” e pediu reação do Congresso. O governador do Maranhão,
Flávio Dino (PCdoB), disse que é “extremamente grave” que altas
autoridades civis e militares estejam apoiando atos políticos contra os
Poderes Legislativo e Judiciário.
No filme de um minuto e meio
compartilhado pelo presidente não há menção direta ao Congresso ou ao
Supremo Tribunal Federal (STF). São exibidas imagens de protestos em
Brasília na época do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Com o Hino Nacional ao fundo, um narrador pergunta logo no início: “Por
que esperar pelo futuro se não tomarmos de volta o nosso Brasil?”.
Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência informou que não
vai se manifestar.
A narração segue com imagens da posse de
Bolsonaro, do momento da facada, durante a campanha eleitoral, em Juiz
de Fora (MG), e de suas passagens pelo hospital. “Basta”, diz o narrador
em outro trecho. “O Brasil só pode contar com você. O que você pode
fazer pelo Brasil? O poder emana do povo. Vamos resgatar o nosso poder.
Vamos resgatar o Brasil.”
Lula reage
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escreveu nesta terça-feira, 25,
em sua conta no Facebook, que o Congresso, as instituições e a sociedade
precisam tomar uma posição “urgente” diante do vídeo.
“Bolsonaro
nunca combinou com democracia. É um falso patriota que entrega nossa
soberania aos Estados Unidos e condena o povo à pobreza. Um falso
moralista que acoberta o Queiroz e outros corruptos e criminosos”, disse
Lula, em referência a Fabrício Queiroz, investigado pela prática de
“rachadinha” quando trabalhava no gabinete de Flávio Bolsonaro na época
em que o atual senador era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Lula
afirmou ainda que Bolsonaro e o ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI), Augusto Heleno Ribeiro, têm promovido um “gesto
autoritário”: “Bolsonaro e o general Heleno estão provocando
manifestações contra a democracia, a Constituição e as instituições, em
mais um gesto autoritário de quem agride a liberdade e os direitos todos
os dias. É urgente que o Congresso Nacional, as instituições e a
sociedade se posicionem diante de mais esse ataque para defender a
democracia”, afirmou o ex-presidente.
O ex-prefeito de São Paulo
Fernando Haddad (PT) também criticou Bolsonaro. Candidato derrotado à
Presidência em 2018, Haddad foi irônico: “Bolsonaro, ao que tudo indica,
cometeu crime de responsabilidade previsto na Constituição que jurou
respeitar mas, certamente, nunca leu”, escreveu, em mensagem no Twitter.
Com informações de O Globo e Agência Estado