Por Luís Cardoso
No dia 21 de junho de
2018 nascia Maria Luisa Silva Almeida, minha caçula amada, a Malu.
Durante toda a gravidez mostrou ser guerreira e vencedora. Fruto de um
parto de risco, o plano de saúde foi obrigado judicialmente a pagar o
procedimento cirúrgico. Dois anos depois, hoje, neste domingo, daqui da
janela embaçada pelas gotículas da Covid-19 ouço Malu batendo palmas e
pronta para cortar o segundo bolo de mais um ano de vida.
É
um momento triste? Não. A energia de Malu, que recebo daqui da janela
do primeiro andar, me faz ter forças para vencer o mal do século, o
vírus que vem dizimando amigos e ameaçando parentes.
Malu bate ao quarto e chama pelo nome do pai – Cadoso, Cadoso, Cadoso! Assim que sou chamado por ela aqui em casa.
Respondo
eu, então: Não posso sair, minha filha! Sem saber com qual linguagem
explicar que não posso derramar o vírus entre a porta e o corredor,
deixar o sangue do vírus entornar pela sala, quartos, cozinha e até
chegar aos seus brinquedos. O que dizer, então?
– Papai Cardoso está dodói, minha filha- Respondo
Ecoa
de dentro de Malu a atitude de guerra. Senta-se ao lado da porta e diz
não, que vai ficar lá até eu sair. Claro, a vontade de chorar é maior
que o quarto, mas não afoga o amor que tenho por minha amada filha.
Com
15 dias ainda isolado, o pior momento é o de não abraçar e conversar
com a minha Maluzinha. Dizer pra ela que tudo vai passar e que um dia
ela saberá, através da história, o momento difícil vivido pela
humanidade no século dela.
Do outro lado da área de lazer, meu
eterno caçula, o Luis Felipe, agora com 15 anos, rapaz bonito e muito
amado por todos nós. Felipe também ocupa o lado esquerdo do meu corpo.
Tenho por ele o sentimento reunido por todos os filhos (Gabriel, Yuri,
Pablo, Neto e Ynahê, a primeira filha mulher).
Creio
sim, com toda a fé inabalável que tenho em Deus, que a vida ainda não
encurtou pro meu lado. Sei que a minha vontade de continuar vivendo é
muito mais forte que um pequeno e invisível vírus devastador.
Abro
a janela e lá embaixo vejo o Felipe fazendo com as mãos um coração.
Revido com beijos do alto. Assim não tem quem aguente. Fecho a janela e
não teve mais como segurar…
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