O estupro foi motivo de 580 ocorrências este ano em todo o Maranhão. No ano
passado, foram 1.254 registros.
Os números escondem
uma realidade que, muitas vezes, começa na infância. Crianças que são
estupradas por pais, padrastos, tios, avós ou pessoas próximas consideradas
"de confiança". O pior é que esse tipo de crime, geralmente, se torna
parte da rotina, se não for denunciado. E quase nunca é.
“Esses
são os estupros denunciados pra organismos oficiais e pra polícia, mais ainda
há uma parcela muito significativa de estupros ocorridos, especialmente dentro
do contexto doméstico familiar, que não é denunciado”, destaca a delegada
Kazumi Tanaka.
“A maior parte dos
estupros não são denunciados e não chegam à polícia. Somente 10% chegam e a
gente tem tido um crescimento no número de estupros”, afirma diretora da Casa
da Mulher Brasileira, Susan Lucena.
O perigo que, para
as crianças e adolescentes, mora na mesma casa, para as mulheres está na rua.
“Enquanto
crianças e adolescentes são estupradas no ambiente doméstico familiar por
pessoas próximas, as mulheres adultas acabam sendo vítimas de estupros por
pessoas desconhecidas. Neste caso, cabe à mulher fazer a denúncia ou não. Ela
não pode ser obrigada a denunciar um caso de estupro”, explica Susan Lucena.
Na legislação brasileira, o estupro é
conceituado como a atitude de "constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal, praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso".
Estupradores podem
ficar presos de 6 a 10 anos. Pena que pode aumentar e, em caso de morte da
vítima, chegar à máxima, de 30 anos.
A Lei Joana Maranhão,
desde 2012, garante que a contagem do prazo de prescrição dos crimes contra a
dignidade sexual praticados contra crianças e adolescentes comece a ser contado
da data em que a vítima completar 18 anos de idade, a não ser que a ação penal
inicie antes disso. Por isso, às famílias, o pedido é de atenção e coragem.
“Os
sinais devem ser identificados pela família. É importante também identificar
que uma menina que é estuprada dentro de casa ela não é estuprada apenas uma
vez. A partir do momento que se inicia por aquelas pessoas que estão dentro do
contexto dela de casa, aquela situação se repete e tende a continuar no
decorrer de toda a infância e adolescência dela, até que um dia ela fuja”,
ressalta a delegada Kazumi Tanaka.
Na Casa da Mulher
Brasileira, as mulheres vítimas de violência sexual se encaixam em dois perfis.
“A gente atende
também mulheres que foram vítimas de estupro, da violência sexual recente, onde
o sofrimento, o desespero estão bem maior naquele momento. Então a acolhida é
diferenciada de uma que já foi estuprada há muitos anos, mas somente agora está
pedindo ajuda”, explica a assistente social Graça Albuquerque.
Traumas difíceis de
esquecer, e a vítima acaba sendo punida duas vezes: uma, pela violência, outra
pela discriminação. Mas, sempre há quem ajude.
“Não
nos compete em momento algum julgar e sim ajudá-la”, destaca Graça Albuquerque.
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