O
jogador maranhense Ananias iria passar as festas de fim de ano em São
Luís, com a família. Ananias surgiu para o futebol nas categorias de
base do Bahia.
Um jogador superprofissional. Regrado e
com muita vontade de vencer, fazia treinamentos específicos por conta
própria para corrigir erros, assistia às partidas dos adversários
antecipadamente e usava o videogame para treinar as jogadas que faria em
campo.
O meia-atacante maranhense Ananias Elói
Castro Monteiro, o Ananias, de 27 anos, é descrito por familiares com
muito orgulho e carinho. Jogador da Chapecoense desde janeiro de 2015,
ele morreu na madrugada desta terça-feira (29) nos arredores de Medellín
(Colômbia), na queda da aeronave que transportava o elenco para a
disputa da final da Copa Sul-Americana, a partida mais importante que o
clube faria em sua história.
“Ele se aperfeiçoava, queria corrigir o
que poderiam ser falhas ou alguma coisa que não tinha sido feita na
divisão de base. Ele fazia correções periódicas e treinamentos
específicos, montava centro de fisioterapia em casa dependendo das
condições [financeiras]. Ele se guardava, assistia a jogos de
adversários mesmo antes de uma preleção, verificava detalhes. Era uma
mente muito evoluída à vitória, a ganhar, a estar lá”, conta o professor
de educação física Paulo Cézar de Souza, de 59 anos, tio da mulher de
Ananias, Bárbara Calazans Monteiro.
Natural de São Luís, no Maranhão,
Ananias surgiu para o futebol nas categorias de base do Bahia. Em
Salvador conheceu a mulher, com quem estava casado havia mais de sete
anos. Deixou também um filho, Enzo, de cinco anos.
“Sempre o chamei de sobrinho de estrela e
glória, porque ele tem lances sempre positivos da vida. Das
dificuldades ele sempre se superou, e morreu num momento de compaixão
mundial, porque o mundo parou por isso”, diz Paulo Cézar, listando um
por um os lances memoráveis da carreira do sobrinho.
Ananias será para sempre lembrado como o
autor do primeiro gol do estádio Allianz Parque, inaugurado em 19 de
novembro de 2014, na vitória do Sport contra o Palmeiras por 2 a 0.
Na final do Catarinense deste ano, ele
fez o gol da vitória na partida de ida contra o Joinville, fora de casa,
na Arena Joinville. Nas quartas-de-final da Sul-Americana, ele marcou o
primeiro gol que abriu o caminho para os 3 a 0 diante do Junior
Barranquilla.
Mas o gol mais importante de sua
carreira foi o último que marcou, em 2 de novembro passado, ao empatar
em 1 a 1 a partida contra o San Lorenzo, da Argentina, na partida de ida
da semifinal da Sul-Americana. No jogo de volta em Chapecó (SC), um 0 a
0, com direito à defesa do goleiro Danilo no último minuto,
classificando a equipe para a final do torneio, que seria disputada
quarta-feira (30) na Colômbia.
“Ele treinava as jogadas no videogame,
montava todas as estratégias em videogame. O pessoal está com o GPS hoje
treinando em campo, e ele já fazia isso porque podia ser patrocinado
por alguém da família, ou ele mesmo investia numa tecnologia para saber
que setores do campo ele poderia aproveitar pela estatura baixa que
tinha”, diz Paulo Cézar, que já trabalhou no futebol profissional como
preparador físico da Catuense, equipe do interior baiano, na época em
que Ananias era jogador do Bahia. O tio nunca trabalhou oficialmente com
o atleta, mas o aconselhava informalmente “porque ele sempre buscou
informações com as pessoas”.
— O diferencial das pessoas que vencem é
a vontade e o comprometimento. Eu passei por muitos atletas que não
cresceram porque não buscaram de corpo e alma. E ele buscava, mesmo sem
tantos recursos no início da carreira, mas tudo o que buscava era em
função de uma grande melhora.
Com 1,69m, o rápido meia-atacante ganhou
em 2011 o apelido de “Ananiesta”, durante a campanha vitoriosa com a
Portuguesa na série B — quando a “Barcelusa” foi comparada ao Barcelona e
Ananias ao meia espanhol Andrés Iniesta.
“Não é à toa que esses meninos chegaram onde chegaram”, diz o tio.
Revelado pelo Bahia, Ananias ajudou o
clube a subir para a série A em 2010. Ele tem dois títulos brasileiros
da série B, o de 2011, pela Portuguesa, e o de 2013 pelo Palmeiras, além
do campeonato pernambucano pelo Sport, em 2014, e o campeonato
Catarinense de 2016 pelo time de Chapecó. Ele também foi atleta do
Cruzeiro.
— Quem acompanha ou é da família, a
gente só vê momentos de muita luz, ele entra e faz gol, coisas positivas
sempre aconteceram na vida dele.
Família
Ananias e a mulher são pais de Enzo, de
cinco anos, filho adotivo do casal. Eles estavam juntos há cerca de dez
anos, desde a época em que Ananias jogava nas categorias de base do
Bahia.
Abalada, Bárbara teve de ser sedada em
Chapecó, onde recebe o apoio de uma enfermeira, da babá da criança e de
uma amiga. Até o meio da tarde de hoje ela não estava acompanhada de
familiares. A irmã, que mora em Portugal, está se deslocando para o
Brasil, enquanto outros parentes tentam ir de Salvador para Chapecó. A
mãe de Ananias mora na região metropolitana de São Luís. As duas juntas
irão definir o local do sepultamento.
Um voo cedido pela FAB (Força Aérea
Brasileira) vai levar familiares dos jogadores até Medellín para o
reconhecimento dos corpos. A expectativa é de que Bárbara viaje até a
Colômbia.
Descrito pelo tio como um “pai e um
marido insuperável”, Ananias vivia com a família em Chapecó desde o
início do ano passado. Eles elogiavam muito a cidade e a estrutura do
clube.
“Lá é algo muito diferente, é uma
família realmente, não é à toa que o Guto Ferreira [treinador do Bahia e
ex-técnico da Chapecoense] não conseguiu falar hoje na coletiva de
imprensa, ele sabe o que deixou para trás. Era um futebol lúdico.
Futebol pelo futebol, muito diferenciado, pagamentos em dia, apoio de
familiares, equipes de divisão de base”, diz Paulo Cézar.
— É uma luz e um meteoro, não só ele como os outros atletas.
Ananias passaria festas de fim de ano em São Luís
O jogador maranhense Ananias iria passar
as festas de fim de ano em São Luís, com a família. A informação foi
dada pelo tio do jogador, identificado como Paulo Aruanda.
Em entrevista a uma rádio local, Aruanda
afirmou que o jogador chegaria em São Luís no dia 8 dezembro, mas
devido a ida da Chapecoense a final da Copa Sulamericana a viagem foi
adiada para mais perto do Natal. Muito abalada, a mãe do atleta foi
parar no hospital, em estado de choque. A família pediu para a imprensa
resguardo neste momento. Até agora, pouca informação se sabe sobre o
corpo, eles aguardam mais informações do clube.
Em relação ao velório e enterro nada foi
decidido, Ananias tinha residência fixa em Salvador, portanto o funeral
poderá ocorrer na capital baiana ou em São Luís. Ananias saiu da
capital maranhense aos 12 anos para jogar em clubes pequenos de Salvador
até chegar no Bahia. A última vez que esteve em São Luís foi no
Réveillon.
Blog Domingos Costa
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