quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Chapecoense: Ananias treinava no videogame as jogadas que fazia em campo

O jogador maranhense Ananias iria passar as festas de fim de ano em São Luís, com a família. Ananias surgiu para o futebol nas categorias de base do Bahia. 
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Ananias iniciou no Bahia, passou pela Portuguesa, Sport, Cruzeiro, Palmeiras e terminou no Chapecoense.
Um jogador superprofissional. Regrado e com muita vontade de vencer, fazia treinamentos específicos por conta própria para corrigir erros, assistia às partidas dos adversários antecipadamente e usava o videogame para treinar as jogadas que faria em campo.
O meia-atacante maranhense Ananias Elói Castro Monteiro, o Ananias, de 27 anos, é descrito por familiares com muito orgulho e carinho. Jogador da Chapecoense desde janeiro de 2015, ele morreu na madrugada desta terça-feira (29) nos arredores de Medellín (Colômbia), na queda da aeronave que transportava o elenco para a disputa da final da Copa Sul-Americana, a partida mais importante que o clube faria em sua história.
“Ele se aperfeiçoava, queria corrigir o que poderiam ser falhas ou alguma coisa que não tinha sido feita na divisão de base. Ele fazia correções periódicas e treinamentos específicos, montava centro de fisioterapia em casa dependendo das condições [financeiras]. Ele se guardava, assistia a jogos de adversários mesmo antes de uma preleção, verificava detalhes. Era uma mente muito evoluída à vitória, a ganhar, a estar lá”, conta o professor de educação física Paulo Cézar de Souza, de 59 anos, tio da mulher de Ananias, Bárbara Calazans Monteiro.
Natural de São Luís, no Maranhão, Ananias surgiu para o futebol nas categorias de base do Bahia. Em Salvador conheceu a mulher, com quem estava casado havia mais de sete anos. Deixou também um filho, Enzo, de cinco anos.
“Sempre o chamei de sobrinho de estrela e glória, porque ele tem lances sempre positivos da vida. Das dificuldades ele sempre se superou, e morreu num momento de compaixão mundial, porque o mundo parou por isso”, diz Paulo Cézar, listando um por um os lances memoráveis da carreira do sobrinho.
Ananias será para sempre lembrado como o autor do primeiro gol do estádio Allianz Parque, inaugurado em 19 de novembro de 2014, na vitória do Sport contra o Palmeiras por 2 a 0.
Na final do Catarinense deste ano, ele fez o gol da vitória na partida de ida contra o Joinville, fora de casa, na Arena Joinville. Nas quartas-de-final da Sul-Americana, ele marcou o primeiro gol que abriu o caminho para os 3 a 0 diante do Junior Barranquilla.
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Ananias e o filho, Enzo, durante sessão de fotos na Arena Condá; Arquivo familiar.
Mas o gol mais importante de sua carreira foi o último que marcou, em 2 de novembro passado, ao empatar em 1 a 1 a partida contra o San Lorenzo, da Argentina, na partida de ida da semifinal da Sul-Americana. No jogo de volta em Chapecó (SC), um 0 a 0, com direito à defesa do goleiro Danilo no último minuto, classificando a equipe para a final do torneio, que seria disputada quarta-feira (30) na Colômbia.
“Ele treinava as jogadas no videogame, montava todas as estratégias em videogame. O pessoal está com o GPS hoje treinando em campo, e ele já fazia isso porque podia ser patrocinado por alguém da família, ou ele mesmo investia numa tecnologia para saber que setores do campo ele poderia aproveitar pela estatura baixa que tinha”, diz Paulo Cézar, que já trabalhou no futebol profissional como preparador físico da Catuense, equipe do interior baiano, na época em que Ananias era jogador do Bahia. O tio nunca trabalhou oficialmente com o atleta, mas o aconselhava informalmente “porque ele sempre buscou informações com as pessoas”.
— O diferencial das pessoas que vencem é a vontade e o comprometimento. Eu passei por muitos atletas que não cresceram porque não buscaram de corpo e alma. E ele buscava, mesmo sem tantos recursos no início da carreira, mas tudo o que buscava era em função de uma grande melhora.
Com 1,69m, o rápido meia-atacante ganhou em 2011 o apelido de “Ananiesta”, durante a campanha vitoriosa com a Portuguesa na série B — quando a “Barcelusa” foi comparada ao Barcelona e Ananias ao meia espanhol Andrés Iniesta.
“Não é à toa que esses meninos chegaram onde chegaram”, diz o tio.
Revelado pelo Bahia, Ananias ajudou o clube a subir para a série A em 2010. Ele tem dois títulos brasileiros da série B, o de 2011, pela Portuguesa, e o de 2013 pelo Palmeiras, além do campeonato pernambucano pelo Sport, em 2014, e o campeonato Catarinense de 2016 pelo time de Chapecó. Ele também foi atleta do Cruzeiro.
— Quem acompanha ou é da família, a gente só vê momentos de muita luz, ele entra e faz gol, coisas positivas sempre aconteceram na vida dele.
Família
Ananias e a mulher são pais de Enzo, de cinco anos, filho adotivo do casal. Eles estavam juntos há cerca de dez anos, desde a época em que Ananias jogava nas categorias de base do Bahia.
Abalada, Bárbara teve de ser sedada em Chapecó, onde recebe o apoio de uma enfermeira, da babá da criança e de uma amiga. Até o meio da tarde de hoje ela não estava acompanhada de familiares. A irmã, que mora em Portugal, está se deslocando para o Brasil, enquanto outros parentes tentam ir de Salvador para Chapecó. A mãe de Ananias mora na região metropolitana de São Luís. As duas juntas irão definir o local do sepultamento.
Um voo cedido pela FAB (Força Aérea Brasileira) vai levar familiares dos jogadores até Medellín para o reconhecimento dos corpos. A expectativa é de que Bárbara viaje até a Colômbia.
Descrito pelo tio como um “pai e um marido insuperável”, Ananias vivia com a família em Chapecó desde o início do ano passado. Eles elogiavam muito a cidade e a estrutura do clube.
“Lá é algo muito diferente, é uma família realmente, não é à toa que o Guto Ferreira [treinador do Bahia e ex-técnico da Chapecoense] não conseguiu falar hoje na coletiva de imprensa, ele sabe o que deixou para trás. Era um futebol lúdico. Futebol pelo futebol, muito diferenciado, pagamentos em dia, apoio de familiares, equipes de divisão de base”, diz Paulo Cézar.
— É uma luz e um meteoro, não só ele como os outros atletas.
Ananias passaria festas de fim de ano em São Luís
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Cria do Fazendão, Ananias está entre as vítimas da queda do avião da Chapecoense na Colômbia.
O jogador maranhense Ananias iria passar as festas de fim de ano em São Luís, com a família. A informação foi dada pelo tio do jogador, identificado como Paulo Aruanda.
Em entrevista a uma rádio local, Aruanda afirmou que o jogador chegaria em São Luís no dia 8 dezembro, mas devido a ida da Chapecoense a final da Copa Sulamericana a viagem foi adiada para mais perto do Natal. Muito abalada, a mãe do atleta foi parar no hospital, em estado de choque. A família pediu para a imprensa resguardo neste momento. Até agora, pouca informação se sabe sobre o corpo, eles aguardam mais informações do clube.
Em relação ao velório e enterro nada foi decidido, Ananias tinha residência fixa em Salvador, portanto o funeral poderá ocorrer na capital baiana ou em São Luís. Ananias saiu da capital maranhense aos 12 anos para jogar em clubes pequenos de Salvador até chegar no Bahia. A última vez que esteve em São Luís foi no Réveillon.
Blog Domingos Costa

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