A vacina da Universidade de Oxford em parceria com a biofarmacêutica anglo-sueca AstraZeneca teve bons resultados contra o novo coronavírus, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira (20) na revista científica The Lancet.
O estudo foi do tipo randômico, com grupo de controle (que recebeu uma
vacina de meningite) e cego (no qual os voluntários não sabem qual
medicamento foi administrado), e realizado com cerca de 1.077 pessoas
saudáveis. Os resultados são das fases 1 e 2 da vacina.
A vacina desenvolvida pela universidade britânica, uma das três opções que estão na versão da fase 3 de testes segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
de acordo com o estudo, pode ser ainda mais efetiva quando uma segunda
dose é administrada. A resposta imune chamada de célula T é produzida 14
dias após uma primeira dose e os anticorpos apareceram depois de 28
dias.
Os
efeitos colaterais, de acordo com a divulgação, foram pequenos e
puderam ser reduzidos quando os pacientes tomaram paracetamol. Entre
eles estava fadiga (70% dos que tomaram a vacina contra covid-19), 68%
tiveram dores de cabeça. Outros efeitos foram dor no local da injeção,
dores musculares, calafrios, estado febril e temperaturas altas.
Outros
estudos ainda devem ser feitos, inclusive em idosos, para garantir a
segurança da vacina. Apesar de conseguir criar uma resposta imune ao
vírus, ainda é preciso descobrir se a vacina pode proteger efetivamente
as pessoas de uma infecção.
Os
pesquisadores acreditam que uma vacina ideal contra o vírus deve ser
efetiva após uma ou duas doses, trabalhar em grupos de risco, como
adultos e pessoas com condições pré-existentes, garantir uma proteção
de, no mínimo, seis meses e reduzir a infecção pelo SARS-CoV-2.
O estudo ainda é muito preliminar para
saber se a vacina preenche todos os requisitos, mas as fases dois (que
ainda estão ocorrendo no Reino Unido) e três de testes (acontecendo no
Reino Unido, Brasil e África do Sul) devem garantir a eficácia completa
dela.
Os
dados foram coletados entre os dias 23 de abril e 29 de maio e os
testes ainda estão acontecendo. Essa foi a primeira divulgação dos dados
relacionados à vacina de Oxford.
A
divulgação dos dados acontece após a AstraZeneca ser fortemente
pressionada por seus investidores a mostrar resultados positivos. Na
quarta passada, quando a empresa anunciou que teria um estudo publicado
nesta segunda e a mídia britânica afirmou que a vacina teria obtido
sucesso, as ações subiram em 5,2%, o que adicionou cerca de 7,4 bilhões
de dólares no valor de mercado da biofarmacêutica. As ações, no entanto,
caíram 0,7% em Londres já na quinta-feira.
Quais são as fases de uma vacina?
Para
uma vacina ou medicação ser aprovada e distribuída, ela precisa passar
por três fases de testes. A fase 1 é a inicial, quando as empresas
tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a
segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz,
sim, imunidade contra um vírus, já a fase 3 é a última fase do estudo e
tenta demonstrar a eficácia da droga. Uma vacina é finalmente
disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a
proteção recebe um registro sanitário. Por fim, na fase 4, a vacina ou o
remédio é disponibilizado para a população.
As outras que também estão na na fase três de testes são as versões da americana Moderna e a da chinesa Sinovac, que também será testada no Brasil.
Para a OMS, a vacina britânica é a opção mais avançada no mundo em termos de testagem.
Na última semana, a reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
Soraia Smaili, em entrevista à GloboNews, afirmou que a vacina de
Oxford pode ser distribuída no Brasil em junho de 2021, assim que o
registro emergencial dela for aprovado.
A
AstraZeneca e Oxford testarão sua vacina em mais de 50.000 pessoas no
mundo todo. No Brasil, serão 5.000 voluntários testados em São Paulo, na
Bahia e no Rio de Janeiro.
Em
junho, o governo brasileiro anunciou uma parceria com Oxford para a
produção de 100 milhões de doses quando a aprovação acontecer.
Antes a previsão da empresa anglo-sueca era que a vacina ficaria pronta já neste ano.
A corrida pela cura
Nunca
antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em
um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou
no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os
países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais.
Fonte: Exame
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