Aru de cocar, foi o destaque do Gavião Kyikatejê |
Essa história só foi possível pela persistência de Zeca Gavião, cacique da aldeia Kyikatejê, cujo nome significa, na língua Timbira Oriental, da família Jê, "povo do rio acima". O time, antes conhecido como Castanheira EC, deixou o amadorismo em 2009, adotou o nome atual e Zeca, fundador do Kyikatejê, foi o primeiro técnico. Hoje é o presidente. Em 2013, o Gavião foi vice da Segundona e vice da Divisão de Acesso de 2014 (NR: primeira fase do Paraense e que classificou os dois primeiros à elite).
O Paysandu só marcou o gol da vitória, através de Zé Antônio, aos 45 do segundo tempo. No fim, o Gavião foi aplaudido por cerca de 100 torcedores, muitos deles pintados, que retornaram felizes para casa, junto com o elenco. De ônibus, a viagem duram longas oito horas até Bom Jesus do Tocantins, que faz parte da Região Metropolitana de Marabá.
– Foi histórico. Mostramos um pouco da nossa cultura através do futebol. Nossa população sofre. Queremos, com o futebol, uma interação com o Brasil – disse o cacique Zeca Gavião, em ao LANCE!Net.
Essa é a missão do Gavião Kyikatejê, que volta a entrar em campo pelo Paraense nesta quarta-feira, quando receberá o São Francisco, no Zinho de Oliveira, em Marabá, a partir das 20h30 (horário local). E o futebol é o canal condutor para o sonho dessa tribo que tem um time com uma missão que vai além do futebol: mostrar um "outro lado" dos índios.
BATE-BOLA
Cacique Zeca Gavião
Presidente do Gavião Kyikatejê
Como você teve a ideia de profissionalizar o então Castanheira EC e concretizar o nascimento do Gavião Kyikatejê?
O time contava com índios de diversas tribos e disputava campeonatos amadores. Vi que muitos tinham potencial e arrisquei criar um time profissional. Todos teriam uma chance de jogar assim.
O que explica o fato de o Gavião, que possui 26 jogadores, não ser mais 100% formado por índios?
No começo focamos mais nos índios, mas não conseguíamos chegar na elite. Batemos na trave algumas vezes. Decidi trazer alguns reforços, que são os brancos, e trabalhar a base. Espero que muitos índios voltem ao time em breve.
Os deslocamentos prometem ser uma dificuldade a mais, certo?
Seria bom ter o apoio de uma empresa grande para fazer o trajeto Marabá-Belém de avião. Foram oito horas de ônibus depois do jogo com o Paysandu. Faz parte.
Satisfeito com o resultado desse projeto até o momento?
Estamos chamando a atenção de todos. O esporte é importante. Queremos mostrar a nossa cultura. Não queremos esconder nada.
O HISTÓRICO DO GAVIÃO KYIKATEJÊ FUTEBOL CLUBE
Era Castanheira
Em 1981 foi fundado o Castanheira Esporte Clube, que disputou competições da Liga Amadora de Marabá.
2007
Os Kyikatejê-gavião compraram o Castanheira e passaram a jogar Liga de Marabá. Apenas índios defendiam o time, que foi campeão do torneio em 2008.
2009
Se profissionalizou e mudou o nome para Gavião Kyikatejê Futebol Clube. Passou a contar com não-indígenas na equipe. O treinador Zeca Gavião se tornou o primeiro índio a dirigir um time profissional no Brasil. Mais tarde ele viria a ser o presidente.
2013
Após anos na Segundona, terminou a competição como vice-campeão. Adquiriu o direito de jogar a Divisão de Acesso. Saiu-se bem (garantiu o segundo lugar superando o Águia de Marabá, por exemplo, e ganhou uma vaga na elite do Campeonato Paraense.
COM A PALAVRA
Antonio Carlos Nunes
Presidente da Federação Paraense de Futebol, ao LANCE!Net.
O Cacique quis saber se gostei dos rituais
Eles se tornaram a atração do campeonato! O Gavião Kyikatejê trouxe os rituais indígenas até nós. Isto também chamou a atenção de toda a imprensa. Tinha até um canal de Paris filmando o jogo. A maneira com a qual recebemos os índios fez com que eles vissem que não temos preconceito. Em retribuição, o Cacique Zeca me ligou para saber se eu tinha gostado dos rituais deles.
Fonte: Lancepress
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