Texto escrito pela Profª. Dolores Mesquita
Mulundus, era uma fazenda pertencente ao
município de Vargem Grande, tendo como donos umas brancas da família
Faca Curta. As mesmas tinham muito dinheiro e poderes de uma escravatura
da feitora de Santa Maria.
Dentre os seus vaqueiros havia uma
família que tinha um filho com o nome de Raimundo Nonato, que era
“fabrica” (nome que se dava aos ajudantes dos vaqueiros). Conta-nos os
antigos, que todos os dias, à meia noite, Raimundo levantava-se, saía.
Não demorava muito a voltar e logo retornava à sua rede. O pessoal da
fazenda, curiosos com aquilo, um dia resolveram descobrir qual a origem
daquele passeio incomum.
Juntaram-se, e logo que saiu Raimundo
Nonato, acompanharam-no. Ficaram admirados com o que viram: encontraram
Raimundo ajoelhado junto a uma pedra grande a orar. Sem serem vistos,
voltaram.
Um belo dia foram vaquejar (pegar gado).
Ao se reunirem na volta, deram por falta de Raimundo Nonato.
Procuraram-no por toda parte da fazenda, e nada de encontrá-lo. Então
eles lembraram da pedra onde ele ia rezar toda meia noite. Quando lá
chegaram, encontraram-no morto, caído, com o pescoço quebrado. O chapéu
de coro que trazia consigo, estava ao lado, e o corpo já estava
santificado (visto que já fazia três dias de morto e não se decomposto).
Ao
redor da pedra, nasceu uma carnaubeira como que cercando o local, dando
umas três voltas ao redor. Com o passar dos tempos, foram tirando as
palhas, pedaços do tronco, até mesmo a raiz da carnaubeira para fazer
chá. As pessoas que tomavam do chá, curavam-se dos males que tinham,
embora a doença fosse incurável. Supunha-se até que a carnaubeira era a
mãe do santo, mandada por Deus. Fizeram então, no mesmo local, uma
capelinha de palha e começaram a festejar com cânticos, orações e
ladainhas o dia que ele havia morrido – 31 de agosto. A notícia começou a
espalhar-se sobre o santo milagroso.
Contaram os escravos Raimundo, Secundio,
Quirino, Martiniano, Macário, Zé Firino, Militão, José Cabral que o
corpo santificado que havia sido levado para Roma. Mesmo assim, eles
continuaram a devoção cada dia mais forte, fazendo novenas dirigidas por
uma família de homens reunidos de uma escravatura da feitoria de Santa
Maria que tinha por dona umas brancas da família Faca Curta.
Com a queda da monarquia a família Faca
Curta vendeu as terras para o coronel Solano Rodrigues e foram embora,
ficando por obediência ou amor ao santo, estes negros já citados. Estes
formavam o coral das novenas cujo chefe era Macário Ferreira da Silva.
Isto pelos anos de 1.858 mais ou menos.
Logo após a compra da terra da fazenda
Mulundus, dona Luiza esposa do Coronel Solano Rodrigues, morava em outra
fazenda, no lugar Primavera, com toda a sua família. Certo dia, um dos
seus filhos, Saul, irmão de Nina Rodrigues, adoeceu gravemente. Então D.
Luiza, aflita, apegou-se com o santo milagroso, que era São Raimundo.
Fez a seguinte promessa: se o filho não morresse e ficasse curado, ela
iria trabalhar a punho, (embora fosse muito rica) para que, com o
dinheiro ganho desse trabalho, mandasse buscar uma imagem para Mulundus.
Então o filho logo se restabeleceu e ficou curado graças ao milagre de
São Raimundo. Logo, logo, ela tratou de cumprir a promessa. Mandou
buscar a imagem em Portugal, a qual custou um conto e setecentos réis. A
imagem veio através dos irmãos Islans, que eram portugueses e moravam
em São Luís. Quando foi entregar a imagem esta foi carregada na cabeça
para que não caísse.
Quando D. Luiza entregou a imagem na capelinha de Mulundus disse que era para ser celebrada a festa da seguinte maneira:
No
dia 21 de agosto a imagem sairia de Vargem Grande, pernoitando na
localidade Nova Olinda, onde ao amanhecer continuaria a romaria até
chegar em Mulundus, dia 22. Permanecendo ali até o dia 31, fazendo-se,
assim, um novenário em honra do Santo, encerrando a festa com uma bela
procissão. No dia 1 de setembro a imagem voltaria com a mesma romaria,
de ida para Mulundus, chegando em Vargem Grande no dia 2, quando então a
imagem passaria o resto do tempo na Igreja de São Sebastião. Assim foi
feito, até mudarem a festa para Vargem Grande, em 1953.
Com o passar dos anos, cada vez mais a
festa se propagava, os milagres que os romeiros alcançavam eram de
admirar. O povo queria para lá alojava-se em barraca feitas todas em
palhas, e o santuário recebia uma renda fabulosa!
Resolveram, então, no lugar da capela
onde foi encontrado Raimundo morto, construir uma igreja grande, onde
coubesse os seus romeiros, e assim foi feito.
Lá para os anos de 1901 a 1908 era
pároco da Paróquia de Vargem Grande o Pe. Custodio José da Silva Santos,
que ia celebrar a festa em Mulundus. A igreja já estava iniciada e com
sua ajuda, acelerou a construção da Igreja, a qual era muito bonita, com
o coreto bem grande, onde as cantoras das ladinhas e orquestras ficavam
a acompanhar o padre nas suas celebrações. Havia um patamar enorme,
feito bem no centro de um acampado, onde ao lado ficava o rio Iguará que
servia para abastecer aquele povo. É uma tristeza para quem passa
naquela localidade ver a deteorização daquela bela Igreja! Apesar do
abandono em que vive, o altar onde celebram as solenidades religiosas
permanecem firme, sendo resistente ao sol e chuva, dizem o povo que não
cai porque São Raimundo protege aquele santo lugar.
Igreja de Mulundus (Frente) foto blog do Kabanno. |
Funda da igreja de Mulundus (Foto blog do Kabanno) Altar da igreja de Mulundus (Intacto) foto blog do Kabanno |
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